sábado, outubro 14, 2006

Sacrifício




Os meus pais tinham uma enorme vontadede ir viver para um lugar mais tranquilo e decidiram comprar uma casa ,numa pequena terriola, perto de Coimbra, onde a minha mãe nascera. Num Sábado de manhã, o meu pai acordou toda a família para que fossemos conhecer a nova moradia.A povoação situava-se no cimo de uma montanha. Embora pensasse que a estrada em que seguíamos era a única a dar acesso á localidade, reparei, entretanto, que um velho caminho se perdia por entre as árvores, que acabava por desembocar numa encruzilhada. Mais tarde o meu pai explicou-me que esse caminho era frequentado por ciclistas ou pedestres, quando estes visitavam o mosteiro abandonado. A minha mãe contou-me que aquele fora o último local onde ela assistira a uma missa, quando tinha apenas 4 anos.Todavia, o mosteiro acabou por ser encerrado, porque era demasiado antigo e a estrutura estava débil. Após o fecho das suas portas haviam alguns rumores de que se praticavam rituais satânicos no local, onde, entre outras coisas, se sacrificavam animais. Chegou mesmo a dizer-se que, por aqueles lados, aparecia o cadáver de uma menina com cortes profundos por todo o corpo, assim como alguns símbolos estranhos tatuados."Não quero que te aproximes daquele local, certo? Não é um sítio apropriado para uma menina de 10 anos", disse-me a minha mãe, enquanto o meu pai lhe segurava na mão e a olhava fixamente.Embora não encontrasse explicação, havia algo que me atraía para aquele lugar. Nessa noite não consegui dormir, pois só pensava em toda aquela informação macabra que me tinham revelado. A curiosidade apoderava-se de mim!...


Massacre de Sangue


Na manhã seguinte, conhecemos o nosso vizinho Luís, um senhor bastante estranho e solitário. Era extremamente magro, com umas olheiras escuras. Não consegui evitar sentir um arrepio na espinha quando, ao apertar-me a mão, senti a sua, fria como gelo.Embora não tenha falado muito, foi cordial com os meus pais, mas esperou o melhor momento para olhar-me directamente nos olhos, em silêncio. Era como se quisesse dizer-me algo muito importante...Logo no primeiro fim de semana, a minha mãe incentivou-me a sair com um outro vizinho, da minha idade, e os seus amigos. Pela primeira vez, permitiram-me chegar a casa à hora que quisesse. Não conseguia esquecer a história tenebrosa acerca do mosteiro e propus a todo o grupo que fossemos até lá, perto da meia-noite. Eles negaram-se e eu, envolvida pelo mistério, decidi ir sozinha. Cheguei á porta do local sagrado e entrei. Estava a tremar de medo, mas ao mesmo tempo não queria perder um só detalhe do que via. O interior estava em ruínas e era escuro, mas esse facto não me impediu de vislumbrar as pinturas das paredes: frases escritas em latim e manchas escuras que pareciam sangue. Entrei na sala onde se encontrava o altar e surpreendeu-me o facto de estar completamente iluminado com velas.De repente, ouvi um grande ruído e quando tentei gritar, senti um pano húmido na minha cara e acabei por cair, de imediato no chão, desmaiada.


Já era tarde demais


Imobilizada, despertei no altar, completamente nua, apenas com um lençol fino a cobrir-me o corpo. Olhei á minha volta e vi que estava rodeada de dezenas de pessoas vestidas com túnicas negras. Naquele momento, Luís, o vizinho, aproximou-se de mim e quando tencionava pedir-lhe ajuda, reparei que empunhava um afiado punhal e se dirigia para mim. Fechei os olhos com toda a força e, depois de ouvir pronunciar algumas palavras, notei que um fio húmido escorria pelo meu pescoço. Entre os gritos tresloucados, perante o sacrifício que se acabava de realizar, fui desfalecendo lentamente. Justamente antes de morrer, compreendi com que finalidade fizera aquela viagem.A última imagem que me chegou aos olhos, antes deste se fecharem para sempre, foi a dos meus pais e a do meu irmão. Para minha surpresa, estavam a beber um copo de sangue ainda quente...


Liliana, 16 anos

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